FADISTA PORTUGUESA

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FADO

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Quando era pequena costumava acordar ao som das cantigas da mãe. Pela casa de família, ecoavam “melodias de sempre…

… e até sons de anúncios publicitários na emissora nacional, que inspiraram a jovem fadista de 26 anos. Hoje é a sua mãe quem ocupa o lugar na plateia para ouvi-la cantar o fado.

O fado surgiu por acaso na sua vida. A cantora de Riachos começou no coro da igreja, passou pelo rancho folclórico e por um grupo de música popular portuguesa antes de chegar à chamada “canção nacional”.

Sempre gostou das cantigas antigas, de saltar à fogueira nas noites dos santos populares e de folclore. Integra o grupo folclórico de Riachos embora as ausências sejam mais frequentes que as presenças porque os dias de ensaios coincidem quase sempre com noites de fado.

A carreira musical não foi uma coisa planeada. Surgiu espontaneamente. Começou a cantar no coral da igreja. Aos 12 anos entrou para o rancho. Aprendeu as letras do repertório e quando era necessário substituía a cantadeira.

Pertenceu também ao “Nozyvozes”, um grupo de amigos que se juntava pela paixão à música e tocava em bailes e espectáculos de beneficência. No grupo costumava interpretar o fado do embuçado ao som de duas violas.

A 8 de Dezembro durante uma das noites de fado organizadas pelas colectividades da terra, pediram-lhe que cantasse. “Cantei, as pessoas aplaudiram muito e quiseram outra. Como já não sabia outra letra cantei “Menina das tranças pretas”. Enganei-me, mas bateram palmas na mesma”, recorda.

No ano seguinte cantou em algumas noites de fado nos arredores da sua terra. Foi convidada por António Pinto Basto para participar nas noites ribatejanas da Expo. Em Agosto e Setembro desse ano foi contratada para cantar todas as noites num clube de fado.

“Sempre fui cantando, mas sem grandes ambições. Fui deixando as coisas correr porque sabia que se fizesse o curso era mais seguro”.
Começou a planear o primeiro disco a solo, que considera o marco da carreira profissional. O fado “Fui ao baile”, a balada “Tive um coração e perdi-o”, de Amália Rodrigues, serão dois dos temas a incluir no Cd.

Nunca arriscou escrever um poema. Prefere usar as palavras dos outros. Mas o que lhe vai na alma contrasta muitas vezes com a nostalgia dos poemas que canta, porque se considera uma pessoa alegre e extrovertida. “Quando estou verdadeiramente triste não consigo cantar coisas tristes. Embarga-se-me a voz e é complicado cantar coisas com mais sentimento”.

Como a maioria dos músicos não costuma ouvir os seus trabalhos, mas, excepcionalmente, durante a entrevista, liga a aparelhagem e põe a rodar um dos Cd’s. Ouve-se o som das guitarras, seguido da voz forte da fadista. Diverte-se a ouvir uma improvisação de fundo que foge ao fado e se aproxima do estilo lírico.
“Trago fado nos sentidos” e “Triste Sina” são os dois fados que interpreta em “Retrato”, gravado na Holanda em 2000, ano em que foi distinguida com o prémio revelação.

No CD do grupo “Entre Vozes”, um dos trabalhos em que participou, canta ao lado de Alice Pires, Maria Armanda, Lenita Gentil. Em tempos fez uma maqueta de três temas no estúdio do Rui Veloso para promover o seu trabalho, que ainda hoje ouve passar em algumas rádios.

Nos minutos que antecedem os espectáculos sente sempre um nervoso miudinho. Mas tudo passa assim que pisa o palco. Debaixo das luzes, com o público pela frente, transfigura-se, mas nem sempre pode dar azo à sua vontade de interagir com a plateia. “Constrange-me o público que não se revela. Tentamos que colabore, mas fica calado e no final bate meia dúzia de palmas. Os públicos mais reservados deixam-nos na incerteza”.

Prefere cantar em ambientes intimistas e faz sempre questão de referir os autores das músicas e letras dos fados que interpreta. Continua a residir em Riachos, onde nasceu. Às vezes tem tempo para desfrutar da qualidade de vida da terra, outras vezes a agenda é preenchida e é preciso cancelar jantares com amigos. Mas à música também lhe deixa horas livres para dar atenção a mãe, ler e montar a cavalo.

A carreira de fadista implicou que passasse a ter atenção ao seu visual. Habituou-se a ter um guarda-roupa adequado a cada espectáculo, desde a saia comprida para o espectáculo de palco até à calça para a actuação mais descontraída. “É preciso andar quase com a casa às costas. Conferir se tenho as meias, sapatos, vestido… Depois é pôr tudo a lavar e voltar a escolher outro tipo de roupa e maquilhagem para outro espectáculo. E se o espectáculo for maior é preciso levar duas roupas”, explica.

A fadista já percorreu muitos países do mundo a cantar. Cada espectáculo e cada público é diferente. “É como um presente. Começa a tirar-se a fita e a ver o que lá está dentro”.

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